CONCENTRAÇÃO
Os três fatores de despertar da iluminação -
esforço, investigação e êxtase - são equilibrados por três qualidades
estabilizadoras. O primeiro desses fatores estabilizantes é a concentração.
Concentração é o fator de iluminação conhecido como focalizador e aparece quando a
mente está firmemente focada sobre um objeto. É uma firmeza que dá tremenda força à
mente. Assim como a luz, quando concentrada num laser, tem a habilidade de cortar através
do aço, a mente concentrada tem o poder de penetrar profundamente no processo da mente e
corpo e de explorar amplamente outros domínios de consciência.
Uma das primeiras percepções que vem às pessoas que observam interiormente é um
reconhecimento de que sua mente está fora de controle; ela está destreinada e
turbulenta, cheia de pensamentos, planos, reações, gostos e desgostos. Há uma barragem
constante de impressões dos sentidos e uma série de reações a eles. Essa corrente
constante de eventos físicos e mentais parece muito sólida. Mas, à medida que a mente
se torna mais concentrada, mais focalizada e quieta, começamos a penetrar através das
camadas de pensamentos e a ver como os pensamentos e as emoções simplesmente surgem e
passam a cada momento. Podemos examinar a experiência dita sólida das sensações
corporais, o som e a visão, e ver que como a mente elas também são somente um processo
em constante mudança. A ilusão de continuidade que elas nos dão é o resultado do fluxo
rápido e constante de atividade. A mente concentrada é capaz de cortar através desse
processo que parece sólido e ver sua impermanência de momento a momento.
Existem dois tipos de concentração normalmente usados na meditação budista. O primeiro
tipo usa a concentração fixada sobre um único objeto para focalizar a mente e parar seu
pensar discursivo, para alcançar estados profundamente firmes e pacíficos. Há muitos
meios de se fazer isso, focalizando sobre a respiração, sobre um mantra, sobre um
sentimento como a bondade amorosa, ou sobre uma luz ou visualização. Isso produz uma
calma profunda na mente e uma tranqüilidade focalizada no objeto da meditação. O
segundo tipo de concentração é chamado de samadhi de momento a momento. É também o
desenvolvimento de uma atenção poderosa e firme, porém é feito concentrando-se
plenamente sobre qualquer objeto de mudança que se aproxima a cada momento. Essa
concentração pode ir mudando entre respiração, som, sensações corporais e estados
mentais à medida que surgem, mas ela produz uma qualidade imediata, profunda e constante
a cada objeto observado. É essa concentração de momento a momento que é desenvolvida
na meditação perceptiva. Para que a concentração se desenvolva dessa maneira, não é
o objeto em si que é importante, mas sim o desenvolvimento da qualidade da objetivação,
calma e focalização clara em cada momento. Quando usamos apenas um objeto - quando nos
concentramos na respiração, numa visualização, num mantra ou em um entre outros cem
objetos - o próprio objeto serve para a função de firmar a mente. Porém, enquanto a
concentração sobre um só objeto limpa a mente da distração e da preocupação, ela é
na verdade uma supressão temporária dos obstáculos. A concentração de momento a
momento se focaliza mais no desenvolvimento de uma firmeza da mente em todas as
situações do que no aspecto da supressão e da remoção da distração.
Esse tipo de concentração focaliza a atenção em qualquer coisa que estiver presente no
momento. Aprender a concentrar é crucial para dominar a arte da meditação. A mente é
difícil de firmar e acalmar, e o treino da concentração exige determinação e
perseverança para nos trazer de volta freqüentemente ao objeto do momento. Passamos
milhares de horas (senão vidas inteiras) com nossa mente passeando. Cada vez que
começamos a nos concentrar, encontraremos as forças desses hábitos, os desejos, medos e
resistências poderosos que mantêm nossa mente em movimento. Essas resistências podem
incluir dor ou tensão no corpo, estados de raiva, solidão, aflição, e qualquer
negócio não terminado que nossa mente ocupada evitou que sentíssemos. Para concentrar e
acalmar a mente, precisamos aprender a arte de nos colocarmos, soltarmos e passarmos
através dessas camadas sem aumentar a resistência.
É como aprender uma nova língua. Precisamos repeti-la muitas e muitas vezes. Acalmar e
treinar a mente é uma tarefa firme e paciente que muitos de nós temos que enfrentar. O
que é necessário é prática, consistência e uma descoberta do espírito correto, um
senso de equilíbrio na meditação. Então, quando começamos a experimentar os frutos,
mesmo que seja uma pequena concentração, torna-se compensador e excitante.