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SISTEMA DE AUTODESENVOLVIMENTO SEGUNDO A ESCOLA T’IEN T’AI (TENDAI)

Para ajudar os indivíduos a superar a ilusão do "EU" e realizar sua identificação com o "ABSOLUTO", o monge Chih I (538-598 AC) desenvolveu um sistema de treinamento, conhecido como os "DEZ PASSOS ESSENCIAIS’, do qual apresentamos um resumo:

1. Aquisição de condições favoráveis;
2. Imobilização dos desejos;
3. Remoção dos impedimentos;
4. Regulação do alimento, do sono e do corpo;
5. Desenvolvimento de discernimento hábil;
6. Exposição da principal prática de MEDITAÇÃO CHIH/KUAN (SAMATHA/VIPASYANA);
7. Reconhecimento de qualidades desejáveis;
8. Reconhecimento dos fatores que impedem o desenvolvimento;
9. A cura de doenças físicas pela aplicação do poder da mente;
10. Consecução da Sabedoria e Compreensão finais.

1 - AQUISIÇÃO DE CONDIÇÕES FAVORÁVEIS
Como o nome sugere, este passo prescreve como assegurar que condições corretas existam para o indivíduo seguir a principal prática de MEDITAÇÃO CHIH/KUAN. Ele deverá ter roupas e alimento adequados; deverá seguir os princípios budistas fundamentais de AÇÃO CORRETA, FALA CORRETA e MEIOS DE VIDA CORRETOS; procurar um local condizente com a prática de meditação e relacionar-se com amigos que o encorajarão e o ajudarão na sua procura da VERDADE.

2 - IMOBILIZAÇÃO DOS DESEJOS
O segundo passo envolve o controle de sentimentos (sensações) autocentrados de cobiça, inveja e desejos sensuais que perturbam a mente e impedem a aplicação efetiva dos métodos de meditação. Estes sentimentos deverão ser claramente percebidos como insubstanciais e como empecilhos rumo a meta.

3 - REMOÇÃO DOS IMPEDIMENTOS
O terceiro passo, em primeiro lugar, diz respeito à perturbação causada ao processo de meditação se surgirem desejos de iluminação. É outra sutil manifestação do EGO querendo algo para si e deverá ser reconhecido como tal. A realidade da nossa verdadeira natureza deverá desdobrar-se naturalmente sem qualquer intromissão de idéias de ganho.
Em segundo lugar, remoção de quaisquer sentimentos de ódio ou aversão.
Em terceiro lugar, sonolência ou letargia.
Em quarto lugar, uma mente irrequieta devido a nervosismo ou à compulsão em tagarelar ou discutir;
Em quinto lugar, sentimentos de auto-recriminação pela nossa prévia estupidez ou inabilidade. O que passou, passou. Só podemos decidir não fazer de novo os mesmos erros, mas não permitir que tais sentimentos perturbem nossa prática.
Em sexto lugar, a dúvida. Dúvida acerca das nossas próprias habilidades ou da eficácia do DARMA ou da sabedoria do nosso mestre.

4 - REGULAÇÃO DO ALIMENTO, DO SONO E DO CORPO
É uma questão de bom senso. O indivíduo deverá visar alcançar em todas as coisas, um equilíbrio sensível, evitando práticas ascéticas de um lado, e excessos de outro, conforme ocorreu com o Buda.

5 - DESENVOLVIMENTO DE DISCERNIMENTO HÁBIL
Significa, basicamente, estabelecer direito nossas prioridades. O homem tem forte tendência a despender uma quantidade desproporcional de tempo em caça atrás dos prazeres efêmeros do mundo, ao invés de se aplicar no banimento da ilusão do ego e na experimentação da Realidade - que é o único meio pelo qual o contentamento, em nível fundamental, pode ser conhecido.

6 - EXPOSIÇÃO DA PRINCIPAL PRÁTICA DE MEDITAÇÃO CHIH/KUAN
Chih (Samatha) é tranqüilidade, equanimidade ou colocação de um fim à vagueação sem objetivo da mente.
Kuan (Vipasyana) é plena atenção clara, reflexão, auto-exame ou introspecção.
Através do Chih o indivíduo pode estabelecer e preservar uma mente clara e discernente. Através de Kuan ele pode erradicar a confusão e promover o entendimento.
Quando o organismo físico está em repouso, isto é Chih.
Quando a mente está vendo com clareza, isto é Kuan.
Como a técnica é aplicada na prática?

CHIH. O método começa com a prática budista de contagem da respiração. O meditador deverá sentar-se numa das posturas aceitas e descritas em livros apropriados (ou ensinadas pelo instrutor). A inalação ou a exalação é contada de um a dez várias vezes. Quando isto puder ser feito sem se perder a contagem e com a exclusão de todos os pensamentos, o meditador passa à prática de acompanhamento da respiração. Isto é, o acompanhamento, com o olho da mente, da respiração que entra e sai, sem contagem. Esta etapa é mais difícil que a anterior porque a mente não tem mais onde se agarrar (a contagem). Cada respiração deverá ser clara e cuidadosamente discernida. Com o correr do tempo, a mente do praticante tornar-se-á mais aguçadamente afinada e ele notará a qualidade das respirações, se elas são curtas ou longas. Quando este ponto é atingido, a mente é "parada" por um dos métodos:
a) Fixando a mente na ponta do nariz sem notar as etapas da respiração (inalação e exalação); ou
b) Fixando a mente na área imediatamente abaixo do umbigo, o T’an T’ien (em japonês, Hara; este método é adotado no Zen). O praticante então deverá visualizar cada respiração que entra e sai, fluindo numa linha vertical desde as narinas abaixo até este ponto e então de volta para cima. No decorrer de tempo, estas práticas se conscienciosamente seguidas, trarão a mente vagueante a um ponto de parada.

KUAN. Existem basicamente três estágios nesta prática que relacionam-se aos vários aspectos da Verdade Tríplice do Vazio:
a) A contemplação da vacuidade ou falta de natureza própria de todas as coisas no universo, desde as maiores estrelas e galáxias até os menores átomos que compõem o corpo e mente do praticante. Cada coisa no universo é uma forma da mesma energia fundamental se manifestando em maneiras infinitamente variantes.
b) A contemplação da irrealidade de todo fenômeno, seja pensamentos ou objetos, devido ao fato de existirem temporariamente somente em total dependência de outros fatores. Isto poderá ser claramente entendido quando se considera o crescimento das plantas. As plantas só nascerão se existir uma certa combinação especial de fatores. Primeiramente, deverá haver uma semente ou fator primordial; em segundo, solo de correta qualidade; em terceiro, água; quarto, raios solares, e assim por diante. Similarmente, pensamentos surgem como resultado de um impulso interior e um objeto. Assim todos os fenômenos devem sua aparente existência ao que possa ser chamado de causa volitiva interna e fatores externos ocorrentes.
c) Estes dois aspectos de qualquer fenômeno implicam, todavia, uma fundamental unidade ultrapassante. Não se deve apegar-se a um ou a outro aspecto, por mais claramente percebido, mas se deve esforçar-se para transcender ambos e alcançar a contemplação do meio. Isto representa a perfeição da prática de Kuan.

Normalmente Kuan sucede ao exercício de Chih, mas quando e quão freqüente deve-se mudar de um para outro depende do próprio praticante. Como princípio geral, aquele exercício que se revela mais de acordo com sua natureza deverá receber menos atenção do que o outro. O objetivo, como em todas as coisas, é atingir o equilíbrio correto.

7 - RECONHECIMENTO DE QUALIDADES DESEJÁVEIS
A correta aplicação da técnica de Chih/Kuan levará ao desenvolvimento e manifestação de qualidades de generosidade, compaixão e autocontrole como resultado da redução do egocentrismo. O indivíduo deverá reconhecer estas qualidades sem naturalmente tornar-se amarrado a elas ou congratular-se quando da sua aparição.

8 - RECONHECIMENTO DOS FATORES QUE IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO
Estes fatores são: a cobiça, a preocupação, a cólera, o ressentimento, o orgulho, a presunção e o desejo de reconhecimento ou posição social elevada. Estes fatores indicam que o ego ainda está muito ativo ou que está tentando se colocar numa posição privilegiada em relação a outras pessoas ou reagindo com hostilidade para com elas ou circunstâncias. Tensão está sendo criada, evitando o desdobramento da sabedoria e do entendimento.

9 - A CURA DE DOENÇAS FÍSICAS PELA APLICAÇÃO DO PODER DA MENTE
Para ajudar a curar doenças físicas, a Escola T’ien T’ai defende a aplicação do poder da mente de duas maneiras básicas:
a) Pela concentração da mente sobre a parte ou membro afetado; e/ou
b) Mentalmente visualizando a doença. Por exemplo, se alguém estiver com febre, ele deverá mentalmente visualizar o surgimento e a elevação de um fogo no próprio corpo. Desnecessário dizer que efeitos benéficos não podem ser esperados desta prática antes que o praticante tenha adquirido considerável controle da mente.

10 - CONSECUÇÃO DA SABEDORIA E COMPREENSÃO FINAIS
Este passo não poderá ser vertido em palavras, porque é a própria experiência da REALIDADE - o inabalável conhecimento final de que o que fora considerado ser o "EU", com todas as suas imperfeições e debilidades, é meramente uma maneira na qual o universo experimenta-se a si próprio.

Bibliografia: Lü K’uan - "Self-Cultivation according to the T’ien T’ai (Tendai) School" em The Secrets of Chinese Meditation - Adaptação da tradução de Nissim Cohen (Originalmente publicado no Boletim Dármico MUDRA nº1 e nº2)

 
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